quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Rei

Tenaz solidão,
Eterna do eterno viver.
Tenra imensidão,
Vão eco nas pedras do meu ser.

As bases ruinaram.
Pilares da glória e do clamor.
Remontantes a discórdia que passaram,
Sustentaram-se medo e pavor.

Meus pilares não se abalam.
Mesmo quando minhas bases tremem.
Mas as vozes não se calam,
São a mim que temem.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Bru'ma

Ela é doce.
Antro do espectro noturno.
Exacerbação do movimento lunar.
Da tristeza o luar oportuno.
O contraste negro do ar.

Ela é graça.
Crisálida do amanhecer.
Âmbar do sentimento puro.
Almejo em teu sorriso fenecer.
Perdido em teu olhar perduro.

Ela é quente
Âmago do desejo.
Êxtase do estremecer.
Em curvas, eterno gracejo.
Em beleza, resplandecer.

Ela é rosa
Símbolo do doce sentimento.
Transforma todo espinho em graça.
Se acaso surge o vermelho, calor do coração,
É porque te guardei em mim, rosa, desde a última estação.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Prisão Perpétua

Sê minha, Pequena,
E abraça-me com o que tens.
Julga meu amor e me condena,
Que meus sentimentos são teus reféns.

Sê ladra e juíza,
Rouba-me e me tem em toda lei a teus pés.
Mas no teu jeito suave de brisa
Sem força me ganha no que és.

Contente por ser condenado sou.
Do julgue conforme se destoou.
A austera justiça do amor
Fez alegria deste coração delator.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O mesmo segundo

Ah, como me agrada olhar o céu a noite.
Agrada-me ainda mais quando vejo a lua.
Mais ainda a noite tua.
Doce lembrança que não esquecerá.
Nem o esquecimento conseguirá.

Já perdi a conta de quantas vezes vivi o momento.
Que me importa é lembrar cada detalhe.
De puro acaso ao relento,
Com um mínimo barulho que atrapalhe.

Marcou tua tranquilidade,
Numa paz que inundou meu ser.
Marcou-me tua vivacidade,
E em ambos uma vontade d'outro ter.

Foi próximo de um sentimento surreal.
Difícil comprovo sua realidade.
Tudo muito fora do normal,
E o que vivi ficou para saudade.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Ocaso

IV

O que é que não sinto?
Se não o sinto, como o posso saber?
É algo bom e distinto,
Ou me engana o ter?

O longe é distante.
Chacota da razão formal.
Devia sentir perto, o amante.
Mas até o perto é abismal.

Pois então que não sinto nada.
É negro e o silêncio jaz aqui.

Pois então que não quero nada.

É negro;
E o fim já é logo ali.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Aurora

III

Por um momento
Tudo que desejei.
Eterno memento,
Sabor sensação de quando beijei.

Como especiaria estrangeira
Tempo, lembrança e vontade.
Inda que talvez passageira,
Perdura à eternidade.

É fuga rápida, de emoção.
Mas o olhar é longo, é tentação.
Os mesmos olhos, intensos e sedentes,
Perdem-se ao corpo, entre bocas e dentes.

É par. O erro consente.
É amargo também o doce demasiado.
Sem chocolate, a madrugada vai lentamente.
Sem culpa, busca-se no quente o gelado.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Um nada

Existe em mim
Um tudo que não foi nada.
Um tudo sem fim.
Um tudo que me desagrada.

Tudo que deixei para trás.
Tudo que sempre guardei.
O todo que não me satisfaz.
O todo que me tornei.

Vem do lavor de viver.
Qual tudo se pode escolher?
Vem do sabor de ter sido.
De tudo que era pra ter esquecido.

Mas se esqueço não sou.
E não posso, senão, não ser.
Então diga-se que sou tudo que sobrou
De tudo que não pude viver.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Su'realismo

II

Deixa que sofro
Pois permuto em solidão.
O negro é fosco,
A voz é canção.

Mas canta comigo,
Afina com meu coração.
Não sê teu próprio inimigo,
Nem procura companhia na solidão.

Permita-me cuidar de ti,
Pois quer cuidar de mim.
Não deixe correr solto por aí
O que vai e pode não voltar no fim.

Mesmo que não saiba dizer
O que é sentimento final,
Tente não se esquecer
Que querias eternizar-me n’um sinal.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Melô dramático

Agora, na minha memória, todas as melodias
São breves pedaços das melodias mais tristes.
Todas as canções são as mesmas canções,
Cantos, todos, que se renderam às emoções.

Tudo me soa poesia.
Rolar de carros, vozes, vento.
Breves pedaços de amor e nostalgia.
Noite, sorriso, momento.

Nó de duas pontas,
Da garganta à ti.
Pois estou de malas prontas,
E parto, em pouco, daqui.

Neste pranto arqueado ao relento,
Ficam os créditos da minha sessão.
Sombras, frio e amor sedento,
Cenário melancólico dessa paixão.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Por onde

Bate a hora.
É preciso, deixa-me ir.
É tempo agora,
E impreciso meu caminho e sentir.

Eu volto, mas eu vou.
Troco o acorde,
O ritmo mudou.
Toada, cântico, recorde.

O caminho
(Não caminho),
Adianta-se ao longo,
E nem onde se perde encontro.

Mas é caminho meu,
E me adianto embora.
Não te perdes do teu,
Que acho que volto antes da janta.
[ Pr'onde fui outrora? ]

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Sem sequência

O que há no sorriso
E não há no olhar?
O que há no que vejo
Que não consigo falar?

Por que rima nenhuma importa,
Se tua beleza vai toda a rimar?
Iludo-me que existe esta porta,
E numa estrofe da tua rima posso entrar.

É mais singular
Do que parece a distância.
Há pouco que posso sonhar.
Há muito que me é ânsia.

Tanto que até me perco.
Está em tudo. Só em olhar.
Em minha guerra é um cerco
Onde batalho por acordar.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Excesso

Sinto-me fraco,
Como não estou.

Sinto-me fraco.
Não sinto-me o que sou.

O que vejo passar...
Onde está o que vejo?
O que deveria faltar...
Por que nada mais desejo?

Por que sinto-me repleto?
Se nada há para me encher.
Do que sinto-me completo?
Do quê? Não consigo ver.

Por onde anda meu eu?
Por onde anda o que fui?
Se nada de mim se perdeu...
Mas nada me restitui.

Como quebra-cabeça incompleto
Que já se aceitou sempre assim,
Sou só um estranho dialeto.
Sou só um verso sem

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Aurora

II

Guardo algo que não sei guardar.
Tenho algo que não sei ter.
Na guerra entre seguir e tentar,
Não quero paz, quero meu ser.

Em frases extensas e pensamentos longos,
Na essência de alguém que sente mais que tem,
Penso e repenso. Revejo os pontos.
Sou tudo e nada. Alguém sem ninguém.

O que vês é o que vejo.
O que falas é o que falo.
Agora soa distante de tudo que ansejo.
Invisível e surdo. Faço-me cego e me calo.

Sem pressa vira o amanhã,
Repetem-se o olhar e a suspeita.
Será o sol ou a vilã?
Conheço a sombra que espreita?

domingo, 29 de janeiro de 2017

Aurora

I

Vira da chuva a madrugada, sem pressa.
É viagem e é surpresa.
No fim a história começa,
Cheia de suspiros, mas nada de luz acesa.

Por isso é tão escuro?
Não ainda, mais pra lá vejo luz.
Certeza da qual abjuro;
Engana e conduz.

Sem essência nenhuma
Fica vago o perfume.
Ainda que em pouco se resuma,
Não vaga o eu, nem me resume.

O intenso vira dia,
O prazer vira sorte.
Guardo em mente a imagem que sorria,
Sem perceber meu novo consorte.