quinta-feira, 31 de março de 2016

Epílogo

De noite escura e asfalto molhado
Se faz a noite minha.
Mesmo quando não chove é chuva.
É noite mesmo quando é dia.

Mesmo quando é dia é sonho.
Mesmo quando é dia e chove.
Porque na noite escura, suponho,
Qualquer emoção é mais nobre.

Confunde-me: É lembrança de ti,
Ou amor que agora tenho?
Parece um filme que não assisti,
Porque foi real e é desenho.

Cale-se o nada que tenho,
Responda de mim o que não sou.
Não sei se estás escondida no que resenho,
Nem por onde a tinta desse papel te procurou.

Mas em bela arte estás tu.
N'um traço de ouro teu desenho.
Mesmo em palavras ao olho nu,
Nobre, és a'rte a que me retenho.

terça-feira, 8 de março de 2016

Su'realismo

I

Com que olhar se passa
O que não se passa ao ver?
Por que não vês que me arrasa?
Ah, e nem te posso dizer.

Mas não existe pretensão alguma.
Nem pretendo que se venha a ter.
Ainda que não se sinta nenhuma,
Sente-se que existe sem pretender.

Ah, ilusão do olhar e ser...
Como imagino e me iludo ainda.
É por curiosidade, pelo que faz parecer.
O que não existe por certo não finda.

Mas há, basta saber.
Foi de viver e sentir.
N’um momento, sem compreender,
Perder-me em ver e sorrir.