quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Calamidade

Um pouco mais fora de casa, agora
O vento já não assovia mais solidão.
O tempo traz chuva, ainda, d’outrora
Mas a nuvem negra hesita ser escuridão.

O vento sopra a tempestade um pouco mais pra fora.
Que tome o mundo e me deixe a alma.
Que seja uma gota e não um dilúvio agora,
E vire mar tudo que me for calma.

Que o sono venha e não seja sonolento,
Pois que a alma clama calmaria.
Vem sono, é chegado o momento,
E te vai chuva, doce, que me acaricia.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Da Luz

O todo de mim se deduz.
Quanto me torturou trinta, ou um dia...
Quão escuro foi sem tua Luz...
Quanto de mim se escondia?

Acordo.
É sol que acentua.
Recordo
Que em fingir se insinua.

O que digo não quer dizer nada.
Tento, me passo por banal.
N’um olhar torto de dissimulada,
Entende que é tolo e tudo o trivial.

Ao trivial não me atrevo.
Ou será que minto?
É da história que escrevo,
Não do que sinto.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Equidistância

Meus dias são só um desejar passar os dias,
Um marco de horas que encurtam o tempo.
Ainda que curto, é longo intervalo.
É dia que não passa e breve lembro-o passar.

Meu pensar é um pensar distante,
Mas tão próximo que me vejo.
De fato, por vezes um imaginar tão aqui,
Que perco o que sou no que penso.

É assim que meu viver é do viver que não vive.
Mas vive, se perto. Ou vive, enfim.
Ah, mas o meu sentimento é declive...
Vem, aperto distante! Pr'um pouco mais perto de mim.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Epílogo

De noite escura e asfalto molhado
Se faz a noite minha.
Mesmo quando não chove é chuva.
É noite mesmo quando é dia.

Mesmo quando é dia é sonho.
Mesmo quando é dia e chove.
Porque na noite escura, suponho,
Qualquer emoção é mais nobre.

Confunde-me: É lembrança de ti,
Ou amor que agora tenho?
Parece um filme que não assisti,
Porque foi real e é desenho.

Cale-se o nada que tenho,
Responda de mim o que não sou.
Não sei se estás escondida no que resenho,
Nem por onde a tinta desse papel te procurou.

Mas em bela arte estás tu.
N'um traço de ouro teu desenho.
Mesmo em palavras ao olho nu,
Nobre, és a'rte a que me retenho.

terça-feira, 8 de março de 2016

Su'realismo

I

Com que olhar se passa
O que não se passa ao ver?
Por que não vês que me arrasa?
Ah, e nem te posso dizer.

Mas não existe pretensão alguma.
Nem pretendo que se venha a ter.
Ainda que não se sinta nenhuma,
Sente-se que existe sem pretender.

Ah, ilusão do olhar e ser...
Como imagino e me iludo ainda.
É por curiosidade, pelo que faz parecer.
O que não existe por certo não finda.

Mas há, basta saber.
Foi de viver e sentir.
N’um momento, sem compreender,
Perder-me em ver e sorrir.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Clara visão

Quando foi que mudei minha direção,
Ou minha direção me mudou?
Objetiva e clara indecisão,
Quando foi que se me alterou?

Indecidi não para me deixar,
Mas para refletir.
Quando foi de revezar,
Voltar e me atingir?

Tudo de não previsão,
Mas era previsto assentir.
E agora o meu coração?
Eu mesmo ressarcir?

Não é confusa a fala,
Mais do que é a intenção.
Nem há erro na escala,
Mais do que tenho sensação.